5 de abril de 2011

DESENHO UNIVERSAL E DECORAÇÃO

Antes de qualquer coisa, é preciso deixar claro que o assunto tratado aqui é – como o próprio nome diz – para todos. Ou, pelo menos, para o maior número de pessoas possível. Em termos técnicos, isso significa dizer que desenho, ou arquitetura, universal tem como objetivo abarcar toda a variação antropométrica. Uma palavra complicada que, na prática, é muito simples. São crianças, adultos, baixinhos, altos, gordos ou magros, idosos, cadeirantes, cegos, jovens atletas, mães com carrinhos de bebê… A ideia, portanto, é facilitar a vida de todos. Sem preconceitos.

Ao contrário do que muita gente pensa, não se trata de uma arquitetura inclusiva, feita para as minorias. Ela é também acessível, claro, mas não só isso. “Muitas vezes, quando pensa em acessibilidade, a pessoa diz, ‘ah, vou fazer isso, mas tem pouca gente com deficiência que vem aqui’”, comenta a arquiteta Maria Elisabete Lopes. “Com o desenho universal, ela percebe que faz aquela mudança para ampliar o leque”, resume. Quando se pensa em um projeto que seja para cadeirante, se exclui os outros. E o objetivo aqui é fazer para todos. O conceito é considerado, inclusive, sinônimo de ‘qualidade de projeto’. Igualitário, adaptável, óbvio, conhecido, seguro, sem esforço, abrangente e, por que não, bonito.

O conceito de desenho universal é bem recente, pois, entre outras coisas, as pessoas não viviam tanto antigamente. “Por conta disso, elas nem chegavam a desenvolver limitações advindas da idade”, explica Enquire Rovira-Beleta Cuyás, arquiteto, professor da Escola de Arquitetura da Universidade Internacional da Catalunha, na Espanha, e cadeirante desde os 23 anos. “E mesmo as pessoas que já nasciam com grandes deficiências ou perdiam suas capacidades, morriam jovens. Portanto, não era preciso contemplar essas necessidades”. Mas o tempo passou, a compreensão social se tornou mais igualitária, a medicina se desenvolveu e foi preciso pensar maior.


Hoje em dia, qualquer um pode experimentar algum tipo de perda, mesmo que temporária, em relação às suas capacidades atuais. “Essas mudanças introduziram novos dilemas e restrições com os quais os designers e arquitetos precisam lidar”, diz Sean Vance, arquiteto e professor da Universidade da Carolina do Norte, nos Estados Unidos. E foi justamente nesse país que, na década de 70, logo depois da Guerra do Vietnã, o conceito do Desenho Universal nasceu. Muitos soldados voltaram para casa mutilados e se tornaram um problema de saúde pública bastante dispendioso.


Foi diante desse contexto que a casa mais humana, como gosta de chamar a arquiteta Renata Mello, chamou a atenção. “Esse diálogo com o espaço é muito importante”, diz. “O modernismo de Le Corbusier havia criado a máquina de morar, extremamente prática, e era preciso resgatar o conforto, o calor e a afetividade”. A arquitetura do final do século XX e, definitivamente, do XXI, se humaniza e pretende contemplar as necessidades de todas as pessoas, com ou sem problemas físicos, psíquicos e mentais. Aqui no Brasil, essa ideia chegou nos anos 80 e hoje, pelo menos no meio acadêmico, já é bastante discutida. Na prática, a coisa ainda é um pouco incipiente. Mas nos espaços públicos, graças à lei de acessibilidade e mobilidade urbana de 2004, o desenho universal é uma realidade. E claro que, quanto mais a sociedade estiver familiarizada com ele, melhor e mais rapidamente o adotará.


Do lado de dentro das casas e apartamentos, o desenho universal ultrapassa a pura disposição estética e valoriza a adaptabilidade. É importante conhecer com riqueza de detalhes a rotina dos moradores e suas preferências para bolar um projeto que crie uma atmosfera familiar e se adeque às diversas necessidades. Ser ajustável, durável e atemporal são apenas algumas das grandes sacadas desse conceito. Isso é que Enrique chama de ‘acessibilidade despercebida’. Não é preciso, por exemplo, colocar barras de segurança no banheiro de uma pessoa de 28 anos sem nenhuma dificuldade de locomoção. Mas, se na hora de construir ou reformar, nenhum encanamento for posto entre 60 centímetros e um metro de altura, nunca um cano será furado se uma barra for necessária no futuro. Financeiramente, o impacto é muito pequeno. E, esteticamente, também.

Não existe um selo que ateste que esse ou aquele produto é universal. Eles estão por aí, em todo o lugar. “Muitas empresas se surpreendem quando ligamos para elas e avisamos que vamos incluir um produto deles, de linha, no nosso catálogo”, conta a arquiteta Sandra Perito, do Instituto Brasil Acessível. São produtos mais leves, ergométricos, fáceis de usar e, por que não dizer, bonitos e estilosos. Qualquer um pode ter um móvel que respeita os conceitos do desenho universal e nem saber disso. Um gabinete de rodinhas, luzes com sensor de presença, tapetes com antiderrapante, móveis com quinas arredondadas e maçanetas do tipo alavanca, por exemplo.

Pequenas mudanças e grandes conselhos também ajudam a aumentar a segurança na casa sem perder beleza ou estilo. Optar por pisos não muito brilhantes e lisos é uma dica simples e que encontra milhares de opções disponíveis no mercado. Considerar o banheiro todo como uma área molhada também evita acidentes. Iluminar bem a bancada da cozinha afasta o risco de cortes e queimaduras. Pisos sem desníveis, portas de correr que não criam mini degraus, luzes que não ofuscam, sinalizadores em áreas de circulação, sensores de presença e alarmes sonoros ou visuais são outras medidas que podem fazer toda a diferença para uma mãe com carrinho de bebê, ou para um adolescente que chega de madrugada em casa e não fica cego com a luz do hall de entrada, ou para um idoso que não ouve direito ou um cadeirante. Ou seja, para cada um de nós.


























Fonte: Portal Caras
 
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