PESSOAS COM DEFICIÊNCIA VISUAL QUEREM MAIOR USO DO
SISTEMA BRAILLE NO BRASIL
No Dia Mundial do Braille, comemorado hoje (4), pessoas com deficiência visual cobram maior uso do sistema de leitura e escrita no Brasil.
Criado pelo francês Louis Braille, nascido em 4 de janeiro de 1809 e que
perdeu a visão aos 3 anos, o sistema permite a pessoas com cegueira total ou
parcial ler por meio do tato. Com seis pontos em relevo dispostos em duas
colunas e três linhas, o sistema proporciona 63 combinações diferentes que
representam as letras do alfabeto, os números, símbolos científicos, da música,
fonética e informática.
Com apenas um toque, o cego percebe os pontos em relevo
ao passar os dedos da esquerda para a direita. O sistema Braille chegou ao
Brasil em 1850. A partir da década de 1940, passou a ser usado em livros.
Apesar de já existirem cardápios em restaurantes e embalagens de cosméticos e
de remédios em braille, cegos ou pessoas com baixa visão ainda reclamam da
dificuldade de encontrar informações adaptadas. “Os mercados não informam nada
em braille sobre promoções [de mercadorias]. Não tem nada”, disse a
vice-presidente da Associação Brasiliense de Deficientes Visuais (ABDV), Adriana
Candeias, que é cega.
“A gente não tem condições de saber o que está comprando, a validade. Algumas
empresas já estão implantando, mas ainda falta muito”, acrescentou o diretor
administrativo da associação, Paulo Luz, que também tem deficiência visual.
A vice-presidente reforçou que o braille garante independência aos cegos. “A
partir do momento em que é oferecido algo em braille, a pessoa com deficiência
visual passa a ser independente. Ela sabe que pode ir ao estabelecimento sozinho
e vai ter total acesso”, destacou Adriana Candeias.
Os representantes da associação também alertaram para a demora de livros
didáticos novos serem transformados para o braille. “Lançam um livro hoje, mas
quando o cego vai ter acesso à obra, ela já está ultrapassada”, argumentou Paulo
Luz.
As editoras não são obrigadas a publicar em braille todas as obras lançadas.
Quando recebe pedidos, o setor, geralmente, recorre a empresas especializadas e
instituições não governamentais para fazer a conversão, segundo a coordenadora
de Revisão Braille da Fundação Dorina Nowill para Cegos, Regina Fátima de
Oliveira
Os livros falados têm sido usados para conseguir textos atualizados com
rapidez. Desde 2009, o Ministério da Educação disponibiliza, de graça, um
software que converte qualquer texto de computador em sonoro, com
narração em português.
Apesar dos benefícios da tecnologia, a coordenadora defende que o livro em
braille é primordial nos primeiros anos escolares das crianças cegas. “Para que
possa ter domínio da ortografia ou da simbologia da matemática, a criança
precisa do livro físico, assim como é com as crianças que enxergam. A gente só
lê quando toca”, explicou.
O crescimento da utilização do audiolivro pode estar relacionado ao custo
mais baixo em comparação ao de braille. Cada página de um texto comum equivale a
até quatro páginas em braille, conforme a especialista.
No Brasil, existem mais de 6,5 milhões de pessoas com deficiência visual,
sendo 582 mil cegas e 6 milhões com baixa visão, segundo dados da fundação com
base no Censo 2010, feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE).