12 de outubro de 2014

IMPRESSÃO

Por Cylene Medrado

Quero falar dessa “frequente impressão” sobre o sofrimento da mãe de uma criança com deficiência. Ora, eu creio que o sofrimento e a luta fazem parte da prática humana. Todos somos fadados as lágrimas. Há momentos e situações que a vulnerabilidade de um filho e sua especificidade causam “impressões errôneas”. Impressões expressas através de frases indelicadas, do tipo: Deus sabe para quem dá a cruz. Cruz? Hã? Quem é cruz? Meu filho? É dessa freqüente impressão errônea sobre a criança com deficiência que trato aqui.
Quando se estabelece uma intimidade com Deus, podemos aceitar a palavra +cruz+ entre uma mãe e um filho especial pelas maravilhas da Cruz. Dito que nesta cruz está Cristo.
Esta cruz que tantos insistem em acreditar ser a chegada de um filho especial compreendo como a permanência do sinal de Deus em minha vida. Essa “cruz” marcou meu coração e trouxe leveza em minha alma. Me aproximou de Deus. Talvez pelo sofrimento, sim. E também, pela minha própria dificuldade de entendimento das coisas de Deus.

Agora, sou marcada pela cruz. Só que a experiência da maternidade me trouxe a verdade sobre a vida. A vida é uma coisa. A cruz é outra coisa. O sofrimento, já é outra coisa. A vida é um presente de Deus. A cruz estabelece meu elo com Deus. E o sofrimento me oportuniza a reflexão sobre Deus e a Vida. Os questionamentos incessantes, a culpa, a vergonha e todas as mazelas que acompanham o sofrimento passam antes pelo amor.
Sendo assim, não permanecem. Se perdem, diluem com o tempo e se transformam em sabedoria. Inicialmente, a “impressão” que temos com a notícia da deficiência desse filho é tristeza. E como uma máquina de Xerox imprimimos essa tristeza.

Mas como todo cartucho acaba e a tinta deve ser trocada, resolvi recarregar meu cartucho com outras emoções. Decidi recarregar minha alma pelas cores e saí do preto e branco. Por onde passo deixo novas e positivas impressões sobre minha maternidade e sobre meu filho.
Agora, minha cruz fica no peito, na alma e na adoração ao “Pai todo poderoso”, que me deu a oportunidade de conhecê-lo de perto, através deste amado filho.

 
 
;