30 de novembro de 2014 Comments

DISGRAFIA, DISORTOGRAFIA E DISCALCULIA



 
 
9 de novembro de 2014 Comments

Professora com Síndrome de Down quebra barreiras para dar aulas e palestras sobre inclusão

Além de aulas, Débora se dedica à literatura infantil, escrevendo contos em que os personagens enfrentam constrangimento - Reprodução
RIO - Para a educadora potiguar Débora Seabra, de 33 anos, inclusão é a palavra de ordem. Com dez anos de carreira, ela foi a primeira pessoa com Síndrome de Down a lecionar no país, e hoje é professora auxiliar da educação infantil na Escola Doméstica, instituição privada de ensino em Natal, no Rio Grande do Norte. Sua história é um dos estudos de caso que serão apresentados no Educação 360, seminário promovido em setembro pelos jornais O GLOBO e “Extra” em parceria com o Sesc e a Prefeitura do Rio.
 
- Para seguir o magistério, é preciso paciência. E eu me dou muito bem com os alunos. Quando um aluno chega, ele vem e me abraça - afirma.
 
Além do trabalho em sala de aula, Débora dá palestras sobre educação inclusiva e se dedica à literatura infantil. No ano passado, lançou o livro “Débora conta histórias” (Editora Objetiva), em que os personagens enfrentam preconceitos. Num dos contos, um pato é discriminado por não querer namorar outras patas, mas sim outros patos. Há também a história de uma galinha surda e um sapo que não sabe nadar.
 
- São histórias que acontecem com animais, mas poderiam acontecer com qualquer pessoa - revela a escritora.
 
Sua atuação como palestrante já alcançou outros países: Argentina, Portugal e Estados Unidos. Este ano, no dia 21 de março, data em que se comemora o Dia Internacional da Síndrome de Down, ela chegou a ministrar uma palestra na sede da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York.
 
- Nas palestras, falo sobre inclusão - conta. - A pessoa com Síndrome de Down tem que estudar no ensino regular, sou contra escolas especiais. Eu só cheguei até aqui porque estudei na rede regular.
 
ESCOLA ESPECIAL, FATOR LIMITADOR
 
Mãe de Débora, a advogada Margarida Seabra nem cogitou a possibilidade de matricular sua filha numa escola especial. Uma das fundadoras da Associação de Síndrome de Down do Rio Grande do Norte e criadora da Comissão de Direitos da Pessoa com Deficiência da OAB/RN, ela tece severas críticas à escola especial, que atende exclusivamente alunos com algum tipo de deficiência física ou mental.
 
- A escola especial é um crime. O aluno com Down precisa enfrentar desafios, conviver com a diversidade.
 
Para a psicopedagoga Dulciana Dantas, que atende Débora há dez anos, o ensino especial para este tipo de caso acaba interditando os direitos das pessoas de participar da vida em geral. Ela defende a combinação de ensino regular com atividades de assimilação pedagógica. Nas sessões com Débora, Dulciana realiza um trabalho didático-pedagógico, repassando com a professora o planejamento escolar que será realizado por sua turma.
 
- Nós também trabalhamos com discussão e produção de textos. Débora é uma das pessoas mais obstinadas e empreendedoras que já conheci ao longo de 15 anos de carreira.
 
Ao terminar o ensino médio, Débora ingressou no curso de magistério da Escola Estadual Professor Luiz Antônio, onde foi vítima de preconceito e sofreu.
 
- Nos trabalhos em sala, eu costumava ficar sem grupo. E cheguei a ser agredida, quando uma menina me obrigou a cheirar o seu tênis. Eu tive que lutar pela inclusão - relata.
 
Mas Débora não desistiu do seu objetivo e acabou conquistando a admiração de alunos e professores. Ela recebeu o título de “Rainha da Escola” e foi homenageada na cerimônia de formatura do curso, em 2004 .
 
Concluído o ensino técnico, o próximo passo foi fazer estágio numa creche na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). E há dez anos ela trabalha como professora auxiliar na Escola Doméstica. A professora Gina Maria Borba, que divide a sala de aula com Débora, é toda elogios para sua colega de trabalho.
 
- A cada dia que passa, Débora se mostra mais interessada - diz. - Está sempre disposta a trabalhar, e me ajuda em diversas atividades como colagem e narração de histórias. E o fato de ter Síndrome de Down é encarado com naturalidade pelos alunos.
 
2 de novembro de 2014 Comments

Nunca disse que seria fácil

Por Fabiana Ribeiro*
 
DESCRIÇÃO DA IMAGEM: professora desenha no quadro junto com crianças pequenas
 
Tic, tic, tic. Ele entrou estalando os dedos hoje em sala, e eu sei o que significa quando ele chega estalando os dedos. Tic, tic, tic. Esse som já me dizia que o dia seria difícil. Não vi pendurado na mochila o seu macaco amarelo, sujo e  sem um dos olhos. Esqueceu? Caiu na van? Perdeu? Sem aquele macaco que, tantas vezes, já salvara tantos dias, as próximas horas poderiam ficar complicadas. Respiro fundo, ele chegou. Veio com os demais: eles abriram a porta, invadiram as carteiras, trouxeram o barulho de fora e um vento frio. Ele sorriu e logo abaixou a cabeça. Parecia aliviado de me ver e eu não pude esconder o afeto que me movia em sua direção. Tive vontade de passar a mão no seu cabelo, tão liso, preto e e cheio de brilho, mas ele não gosta quando eu faço isso, então, optei por fazer o mesmo carinho em outra criança que, em resposta, me abraçou. Fecho a porta. São só 13h. Eles, todos, eram meus agora.
 
Tic, tic, tic. Não me incomodei com o barulho. Mas Jonas se incomodou. “Isso está me irritando, para com isso”. Ele tentou, mas não parou. “Para! Você não vê que isso incomoda?”. Não, ele não via, sequer notava. Ou via e ignorava. Não sei, ainda não descobri. Em vez de pedir que parasse lhe dei um lápis e ajeitei o seu livro na página que íamos estudar, ele  me entendeu e me atendeu. E me disse no ouvido: “eu vou tentar parar”.
 
As próximas horas se passaram sem grandes alardes. Tic, tic, tic. Um pedia para ir ao banheiro, segundos depois outro também tinha a mesma vontade. Tic, tic, tic.  Alice pegava o lápis de Lalo que não parava de conversar com Joaquim que ria das histórias de Sofia que não entendia a função da letra K… Separei Carlos de Vanessa, assim como apartei brigas por causa de um lego. Tic, tic, tic.  Nada muito fora do normal. Então, foi Laura quem avisou: “O João está desenhando em vez de fazer a atividade. E eu também quero desenhar!”. Pronto. E Laura, sem querer ou querendo, detonou a bomba do dia. Tic, tic, tic. Ele se levantou como tivesse sido pego roubando Batom nas Lojas Americanas. Pegou seu desenho e disse que preferia desenhar a ter de escrever “palavras bobas e idiotas”. Correu para o canto da sala, como se seu papel fosse um segredo ou um tesouro. Tic, tic, tic. Fui em sua direção e pedi que voltasse para o seu lugar e, sim, fizesse suas palavras. Ele nem precisou dizer não. Me mordeu, e eu gritei. Ele não queria fazer isso. “Essa marca vai demorar a sair do meu braço”, pensei.
 
Ninguém riu. Veio Antônio me ajudar. Me ajeitei. Quis sair dali, daquela sala, daquelas crianças. Me senti mal, impotente, incapaz. João começou a andar em círculos, como se tivesse acuado, nervoso, tenso, arrependido. Tic, tic, tic. “Cade meu macaco? Vc pegou o meu macaco?”. “Ele não veio hoje, João. Podemos nos acalmar juntos? Vamos tentar fazer isso sem o macaco?”. Ele queria, mas já não conseguia se controlar. Num espetáculo aberto para as outras crianças, João começou a gritar e, pela segunda vez, me mordeu. A essa  altura, havia outras crianças espiando pela janela e vendo a nossa situação. Rapidamente veio a professora da turma ao lado tentar nos ajudar, mas o caos já estava em sala e a única coisa que podíamos fazer era esperar  a crise passar, enquanto as demais crianças iam para o pátio numa longa fila indiana cantarolando o “sapo não lava o pé”.
 
De repente, Miranda  saiu da fila. Deixei. Ela voltou e puxou João pela mão dizendo “canta com a gente ou estala seus dedos agora”. Tic, tic, tic. “Eu sei estalar também, veja só”. E mostrou seus dedinhos miúdos tentando a custo fazer sair algum som. “Não é assim que faz. Você não sabe ainda”. E foi engatando na conversa, na sua aula de estalar os dedos e na atividade feita num novo ambiente.

Naquele dia, não houve mais crises. Aliás, podemos passar dias sem João perder o controle. Não há um motivo, talvez nem exista um detonador. Vou descobrir — quero descobrir. Não sou médica, não sou sua psicóloga. Eu sou sua professora. Sou o elo do João, da Laura, do Antônio, da Alice, da Sofia, da Miranda com o conhecimento. Então, eu vou descobrir.


No fim do dia, cansada, esgotada, exaurida, tic, tic, tic. Mas já não era João. Era eu. Era eu pensando no João e no desafio diário que é para mim tê-lo em sala. “Nunca disse que seria fácil. Mas também não vou desistir de você”, pensei. Nem da Laura, nem do João. De ninguém.
 
 
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