23 de outubro de 2011

A PRISÃO DO AMOR

 Texto de Cylene Medardo

Uma sentença declarada da prisão do amor é a chegada de um filho. Existem três momentos que a nossa sentença de amor começa a ser dada: o primeiro momento é a notícia da gravidez, o segundo momento é o  crescimento da barriga e o terceiro momento é som do primeiro choro do bebe. Nos apaixonamos definitivamente por aquela criatura frágil e pequena e começamos a entender o que é o amor. Mas quando aquela criaturinha frágil e pequena nasce com alguma necessidade especial achamos que fomos sentenciados a junção do sofrimento e do amor. Lutamos como grandes advogados pela negação do óbvio. Rejeitamos a intimação do diagnóstico. E revogamos a Deus nossos milhares de porquês. Mas enquanto vivemos esse turbilhão de mandatos e pedidos de expedição para que nossa vida volte novamente a entrar no eixo, nosso bebe vai crescendo, nossos cuidados também e aí...já era.. somos sentenciados a amá-los e protegê-los para sempre.
Com o passar do tempo, acreditamos seriamente que esse filho é nosso prisioneiro. Acreditamos que ficará para sempre ao nosso lado, será sempre nosso filho mais frágil, que precisa mais dos nossos cuidados que os outros filhos e tornamos nossa relação mais delicada e nossa presença mais marcante. Acho que a sensação da superproteção parece ter uma mera semelhança com verdadeiros prisioneiros sentenciados em celas na prisão. Contamos os dias para que os tratamentos acabem, esperamos sempre a visita das boas notícias, desejamos que as pessoas não nos trate com diferença quando estamos no convívio social, ficamos chateados com olhares de preconceito, entristecemos com comentários de derrota e descansamos nossos corações em Deus aguardando dias melhores.
A única e grande diferença entre um prisioneiro e mães e pais de pessoas com necessidades especiais, é a liberdade. O prisioneiro espera ansiosamente anos pela liberdade, e nossas famílias não. Não sabemos bem como lidar com a liberdade. Ela muitas vezes pode significar autonomia, desenvolvimento e aceitação, mas também pode significar ruptura, partida e dor. Fazer o que?? Faz parte do processo da vida. A liberdade de ir e vir. E todos lutamos por isso desde pequenos. Brigamos com nossos pais porque queremos ir na casa dos amigos, sair pra festas e shopping, namorar..enfim è uma parte do processo da vida inadiável. Esses filhos tão queridos fruto do nosso amor,  tem que ser libertos dos vasos de flores e da raiz das arvores. Eles tem que brotar sozinhos, dar sementes e gerar novos frutos e flores. Eles tem que sair da nossa prisão do amor e tomar o sol, respirar a convivência da diversidade, molhar na chuva para que o plantio tenha valido a pena. E com certeza, chegara o momento de abrir as portas dessa prisão e deixá-los partirem para a liberdade de escolha e autonomia em suas vidas mesmo que seja uma decisão difícil e  dolorosa. A sentença de prisão perpetua deve permanecer apenas com o amor, porque ele sim é infinito, tolerante e completamente perdoável.

CYLENE MEDRADO


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