Texto de Cylene Medardo
Uma sentença
declarada da prisão do amor é a chegada de um filho. Existem três momentos que
a nossa sentença de amor começa a ser dada: o primeiro momento é a notícia da
gravidez, o segundo momento é o
crescimento da barriga e o terceiro momento é som do primeiro choro do bebe.
Nos apaixonamos definitivamente por aquela criatura frágil e pequena e
começamos a entender o que é o amor. Mas quando aquela criaturinha frágil e
pequena nasce com alguma necessidade especial achamos que fomos sentenciados a
junção do sofrimento e do amor. Lutamos como grandes advogados pela negação do
óbvio. Rejeitamos a intimação do diagnóstico. E revogamos a Deus nossos
milhares de porquês. Mas enquanto vivemos esse turbilhão de mandatos e pedidos
de expedição para que nossa vida volte novamente a entrar no eixo, nosso bebe
vai crescendo, nossos cuidados também e aí...já era.. somos sentenciados a
amá-los e protegê-los para sempre.
Com o passar do tempo, acreditamos
seriamente que esse filho é nosso prisioneiro. Acreditamos que ficará para
sempre ao nosso lado, será sempre nosso filho mais frágil, que precisa mais dos
nossos cuidados que os outros filhos e tornamos nossa relação mais delicada e
nossa presença mais marcante. Acho que a sensação da superproteção parece ter
uma mera semelhança com verdadeiros prisioneiros sentenciados em celas na
prisão. Contamos os dias para que os tratamentos acabem, esperamos sempre a
visita das boas notícias, desejamos que as pessoas não nos trate com diferença
quando estamos no convívio social, ficamos chateados com olhares de
preconceito, entristecemos com comentários de derrota e descansamos nossos
corações em Deus aguardando dias melhores.
A única e grande diferença entre um
prisioneiro e mães e pais de pessoas com necessidades especiais, é a liberdade.
O prisioneiro espera ansiosamente anos pela liberdade, e nossas famílias não.
Não sabemos bem como lidar com a liberdade. Ela muitas vezes pode significar autonomia,
desenvolvimento e aceitação, mas também pode significar ruptura, partida e dor.
Fazer o que?? Faz parte do processo da vida. A liberdade de ir e vir. E todos
lutamos por isso desde pequenos. Brigamos com nossos pais porque queremos ir na
casa dos amigos, sair pra festas e shopping, namorar..enfim è uma parte do
processo da vida inadiável. Esses filhos tão queridos fruto do nosso
amor, tem que ser libertos dos vasos de flores e da raiz das arvores.
Eles tem que brotar sozinhos, dar sementes e gerar novos frutos e flores. Eles
tem que sair da nossa prisão do amor e tomar o sol, respirar a convivência da
diversidade, molhar na chuva para que o plantio tenha valido a pena. E com
certeza, chegara o momento de abrir as portas dessa prisão e deixá-los partirem
para a liberdade de escolha e autonomia em suas vidas mesmo que seja uma
decisão difícil e dolorosa. A sentença de prisão perpetua deve permanecer
apenas com o amor, porque ele sim é infinito, tolerante e completamente
perdoável.
CYLENE MEDRADO
DOWNS ONG BRASIL
Travessa Alvaro Varanda, 32 - Centro - Petrópolis/RJ
(24) 8849-1037
www.downsongbrasil.com
cymedrado@downsongbrasil.com
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