Texto de Cylene Medrado
A escola, o primeiro dia de aula do Mateus teve a sensação de
uma viagem literalmente inesperada. Não sabia como seria a adaptação dele na
escola e a adaptação da escola as necessidades do Mateus.
Sonhamos conhecer um novo lugar, novas pessoas e, esperamos
muita diversão no roteiro da viagem. Temos o cuidado de colocar na bagagem tudo
que achamos fundamental, desde a escova de dente à máquina fotográfica para
registrar cada momento.
Eis que, o primeiro dia na escola do Mateus soava como ruptura.
Para algumas viagens partimos contentes com o roteiro de férias. Já outras
viagens representam distanciamento distanciamento das pessoas queridas. E essa
viagem que meu pequeno Mateus está prestes a fazer é a viagem dolorosa.
Sei que qualquer viagem está sujeita a imprevistos. Isso me
assusta. Será o primeiro contato do Mateus com outras pessoas, outras crianças
e em outro lugar. A grande, enorme, diferença é que no espaço da escola eu não
serei a guia do roteiro de viagem.
Espero que o motorista (a motorista, no caso a professora) que
comanda e pilota o ônibs e todo o roteiro de viagem esteja preparando para
estacionar nas estações do Mateus e correr com o ônibus sem deixá-lo para trás.
E os passageiros? Os mesmos que embarcam nessa viagem? Ah! Eles conseguem
entrar sozinhos no ônibus, sentar-se na cadeira e embora não saibam o que vão
encontrar pelo caminho entendem o comando da cabine do motorista. Enfim, expor
seu filho especial em uma viagem que você não pode fazer com ele, dá medo. Medo
do outro. Independente desse outro ter 2 anos ou 40 anos de idade, estou
expondo o meu melhor. Expondo meu filho. Sei que é necessário mas doloroso. Seu
choro não representa apenas choro de saudade. Ele teme. Teme principalmente
porque não anda e fala. Eu temo por esses milhões de motivos que me tornam mãe
diariamente.
Por esses mesmos motivos que me fazem acordar e dormir
incondicionalmente mãe do Mateus. E, acordando e dormindo diariamente tão e
simplesmente mãe, espero que seja uma viagem inesquecível porque aprendemos
mais que esperamos. E os imprevistos da viagem? Ah! Esses acabam superados
porque Mateus transborda emoção.