Cerca de 50 deficientes visuais usam os serviços na conferência. Nova profissão surgiu para descrever filmes e peças de teatro.
Andressa Gonçalves e Mariucha Machado
“A sala possui aproximadamente 400 lugares com mesas duplas e microfones para serem utilizados em momentos adequados para perguntas. A mesa dos conferencistas é composta por sete lugares.” Assim começa mais um dia de trabalho dos audiodescritores Kemi Oshiro e Bernardo Lacombe. Andressa Gonçalves e Mariucha Machado
Esta semana os dois e mais um grupo de 30 profissionais estão trabalhando para a ONU nos eventos da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, em vários pontos do Rio de Janeiro.
A profissão deles é nova. Eles são audiodescritores, ou seja, profissionais que trabalham para facilitar a inclusão de pessoas com deficiência visual em eventos, peças de teatro ou filmes. Na Rio+20, o Comitê Nacional de Organização distribuiu os audiodescritores pelo Riocentro, HSBC Arena, Parque dos Atletas e Pier Mauá. O trabalho está disponível em inglês e português.
A coordenadora de toda essa equipe, a atriz Graciella Pozzobon, conta que prefere treinar pessoas ligadas ao teatro para desenvolver essa atividade. “Eles têm um olhar mais apurado e uma voz mais marcante para descrever a cena”, diz ela.
Segundo Graciella, é importante que todo a narração seja feita “sem julgamento e de uma maneira clara e objetiva”. Em alguns momentos ela reconhece que o trabalho é árduo. Narrar o documentário norueguês ‘Convite da dançar’, sobre dança contenporânea, e o filme ‘Matrix’, por exemplo, foram provas de fogo. “É difícil passar o que está acontecendo quando uma obra é abstrata ou mesmo cheia de efeitos especiais”.
As atividades durante a Conferência da ONU têm tido um resultado positivo. Graciella diz que os estrangeiros são os que mais procuram pela audiodescrição. De todos os inscritos nos eventos oficiais da Rio+20, cerca de 50 são cegas ou com baixa visão.
Preparação
Bem antes de colocar a mão na massa os audiodescritores precisam se preparar. Para a Rio+20, por exemplo, foi preciso se aprofundar no assunto sobre sustentabilidade, saber de onde eram os palestrantes, conhecer os objetivos de cada um e o tema que seria colocado em questão.
Bernardo Lacombe passou por um treinamento em 2011 para estar apto a fazer as audiodescrições. Ele contou que já está de olho nos grandes eventos internacionais que o Brasil vai sediar nos próximos anos, como a Copa do Mundo em 2014.
A jornalista Kemi Oshiro acredita que a acessibilidade é um campo que precisa ser muito mais divulgado e aproveitado. “Fazer um filme e impedir que algumas pessoas o assistam não é justo. Todos precisam se sentir incluídos e iguais”.